Priscila Bomfim fala sobre o programa do “Futurível”

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Priscila Bomfim fala sobre o programa do “Futurível”

A maestra Priscila Bomfim comentou sobre o programa que será interpretado pela OSBA no concerto Futurível, que acontece neste dia 15 de setembro, às 17h, na Igreja de São Francisco (Pelourinho), com entrada gratuita (sujeita a lotação do espaço).

Bomfim regerá o concerto, que terá como solistas os violonistas com solos do spalla da OSBA, Francisco Roa, e do também violinista da OSBA, José Fernandes. O programa pelas seguintes obras dos compositores baianos Paulo Costa Lima (“Atotô do L’homme armé, Op. 39”) e Lindembergue Cardoso (“Sedimentos, Op. 27”), do russo Alfred Schnittke (“Concerto Grosso Nº 1) e do estoniano Arvo Pärt (“Oriente e Ocidente”).

“É uma alegria reencontrar a OSBA, após nosso último concerto, em 2018. Naquela ocasião, interpretamos obras de Fanny Mendelssohn e Mozart. Agora, trazemos um programa totalmente diferente com o “Futurível”, que foca no repertório do século XX. Convido o público a embarcar em uma jornada sonora envolvente e diversificada, em que cada obra explora ao máximo as possibilidades de timbres e recursos dos instrumentos. Em vários momentos, parece que estamos ouvindo trilhas sonoras, com cada peça revelando um universo único de som e texturas.

Iniciamos com ‘Atotô do L’Homme Armé, Op. 39’, do compositor baiano Paulo Costa Lima (1954), que celebra 70 anos neste mês. Ele é um mestre em criar diálogos entre música erudita e popular, ancestralidade e contemporaneidade. Esta obra, profundamente enraizada na cultura baiana e afro-brasileira, destaca-se pela pulsação rítmica, com percussão e cordas em perfeita harmonia. Ouviremos ritmos típicos da Bahia, como a capoeira, com o berimbau logo no início da peça, criando uma atmosfera cheia de energia e tradição.

Seguimos com ‘Sedimentos, Op. 27’, do compositor baiano Lindembergue Cardoso (1939-1989), que nos deixou precocemente aos 49 anos, mas cujo legado permanece profundamente influente tanto na composição quanto na regência. Originalmente escrita para quarteto de cordas, esta obra explora diversas técnicas instrumentais, como glissando, ponticello e pizzicato, resultando em uma trilha sonora rica, quase como a de um filme de suspense. É assim que eu retrato esta música, porque os efeitos que Lindembergue tira deste grupo de cordas são fantásticos. 

Em contraste, apresentamos ‘Oriente e Ocidente’, do estoniano Arvo Pärt (1935). Fico muito satisfeita de poder reger uma obra deste compositor, porque, quando estudei na Estônia, eu ouvi sua obra para orquestra sinfônica com ele próprio presente, dando instruções para o maestro. Ele é realmente um ícone da música do século XX. Esta peça destaca a expressividade das cordas, especialmente com um uso contrastante de vibrato e sem vibrato, criando um diálogo sutil entre o Oriente e o Ocidente.

Encerramos com ‘Concerto Grosso’, do russo Alfred Schnittke (1934-1998). O nome desta obra já diz tudo. Apesar do compositor ser do século XX, ele utiliza um termo que vem da música barroca. Vários compositores, assim como ele, no século XX, usaram esta mesma forma do Concerto Grosso, só que com uma linguagem contemporânea. Aqui, dois solistas (violinos) contracenam com a orquestra de cordas, conhecida como tutti, acompanhados por um piano e um cravo, instrumento que evoca a sonoridade característica da música barroca. A densidade do som é incrível, com cada instrumento de cordas tocando linhas diferentes, gerando uma textura rica e complexa.

Espero que apreciem e saiam deste concerto com uma nova experiência do que é o futuro, ou do que era o futuro no século XX. E se indagando: o que mais nos espera na música?”

 

Bio Maestra Priscila Bomfim:

Nascida em Portugal, a maestra Priscila Bomfim se destaca no meio musical por sua sensibilidade e também pela versatilidade artística, com notável atuação na direção musical de óperas de repertório ou estreias de novas obras. Foi a primeira mulher a reger uma ópera na temporada oficial do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e tem realizado concertos regendo orquestras como Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), Orquestra do Theatro São Pedro (SP), OSUSP, entre outras. No ano de 2022, regeu a estreia de quatro óperas brasileiras, a integral de “Le Vin Herbè”, de Frank Martin, e “Pierrot Lunaire”, de Arnold Schoenberg. Em 2023, dirigiu as óperas “Eugene Onegin” (Tchaikovsky) e “Cendrillon” (Pauline Viardot), além de concertos no Theatro Municipal de São Paulo e no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Bacharel em Piano pela UFRJ com o mais alto grau “Summa cum laude”, completou seu Bacharelado em Regência Orquestral e obteve o título de Mestre em Piano com um relevante estudo sobre Leitura à Primeira vista ao Piano. Atualmente, também é diretora musical de duas orquestras jovens do Instituto Brasileiro de Música e Educação. 

Site: https://www.priscilabomfim.com/

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